Com 25 anos de tradição no agro, produtora Márcia Vasques é a primeira entrevistada da 3ª edição do Rally Mulheres do Agro

O Rally Mulheres do Agro está de volta! E a primeira parada da 3ª edição desse projeto que busca entrevistar produtoras rurais de diversas culturas do Brasil é na Fazenda Márcia Vasques localizada no município de Cândido Mota (SP), na região do Vale Paranapanema.  

A produtora Márcia Regina Vasques trabalha com o agronegócio há mais de 25 anos e planta as culturas da soja e do milho em uma área de 750 hectares, além de ter um sistema de criação de confinamento de gado há 2 anos. As raízes no agro vieram de seu pai e dois irmãos, que também são agricultores. 

No começo, ela trabalhava com a parte administrativa, financeira e comercial do negócio da família, auxiliando o pai enquanto ele tomava conta das propriedades. Com o falecimento do patriarca, os irmãos dividiram a sociedade e cada um ficou responsável por suas próprias terras. Foi a partir desse momento que Márcia assumiu a liderança da fazenda que leva o seu nome e ficou à frente do trabalho nas lavouras.

LIDERANÇA NO AGRO
No começo ela enfrentou diversos desafios pelo caminho. “Se até hoje tem preconceito, imagine alguns anos atrás”, comentou Márcia, revelando que não teve muito apoio familiar para seguir no setor e encarou dificuldades para contratar funcionários, já que eles não gostavam da ideia de trabalhar para uma mulher. “Eles me conheciam dentro do escritório, não na roça, se sentiam pouco à vontade comigo”, revelou a produtora. Além disso, muitos deles não consideravam a parte administrativa de uma propriedade como um trabalho do agro, duvidando da capacidade dela de comandar as terras. Esses obstáculos não a impediram de conquistar o seu espaço no setor. Ela foi atrás de aprendizado e mostrou que tinha competência para lidar com o processo do plantio, manejo, e colheita, pesava caminhão, trabalhava com as máquinas, guiava colheitadeira e acompanhava o desenvolvimento da lavoura. “Tinha que mostrar que não estava lá para brincar, que eu tinha capacidade e podia fazer o que eles faziam. Foi o que aconteceu”, conta a produtora. Apesar de ficar muito feliz em ver que o envolvimento das mulheres com o agro tem crescido e se destacado cada vez mais nos últimos anos, Márcia afirma que ainda há um longo caminho a ser percorrido. “Se você está disposta, tem que vestir a camisa e se impor. Nós, mulheres, somos mais humildes, não temos medo de ir atrás, buscar saber, perguntar”, ressalta a produtora.

SUCESSÃO NO CAMPO
A sucessão no campo é um tópico de grande interesse para Márcia. Marcela, sua filha mais velha, é dentista, mas está, aos poucos, demonstrando interesse pela parte administrativa das propriedades. Já seu filho mais novo, Rafael, recém-formado em agronomia, tem auxiliado a mãe no cuidado com as lavouras, mas gosta mesmo da pecuária. “A parte do gado é ele que cuida, é uma maneira de incentivá-lo e ver como ele vai se sair na administração e nas negociações”, explica a produtora, “quero que eles possam dar continuidade e que não desanimem, pois obstáculos vão sempre surgir”.

TECNOLOGIA NO CAMPO
Quando o assunto é tecnologia no agronegócio, Márcia revela que tem verdadeira paixão pelo tema e busca estar sempre a par das inovações apresentadas no setor. Na sua visão, com a grande valorização nos preços das terras, é necessário investir para conseguir a maior produtividade possível. “E como atingimos isso? Através de uma análise de solo, de uma agricultura de precisão, de irrigação, ou seja, por meio de tecnologia”, frisa a produtora, que já implanta essas inovações em suas propriedades.

SAFRA 2020/21
A produtora de Cândido Mota terminou a colheita da soja no começo de março e revela que enfrentou diversas dificuldades durante essa safra de verão. O principal desafio foi o clima, com longos períodos de estiagem na região, principalmente na época do plantio. As pragas também deram muita dor de cabeça para Márcia, que teve que lidar com o percevejo, inseto que já vem acompanhando todas as safras há algum tempo, e a mosca branca, que além de introduzir toxinas nas plantas também transmite doenças severas que prejudicam o desenvolvimento da lavoura. Por conta das infestações que ameaçavam a soja, e por ser a principal cultura produzida na região, Márcia realizou um alto investimento nos insumos da safra de verão. Principalmente com as diversas aplicações de inseticidas e fungicidas para combater a mosca branca. Apesar dos contratempos, a produtora está satisfeita com o resultado da safra 2020/21. “Por mais que tenhamos sofrido com os fatores climáticos e as pragas, tivemos uma produtividade muito boa, superamos a expectativa inclusive”, destaca Márcia, que fechou com uma média de 175 sc/alq de soja em sua propriedade. Segundo a produtora, o apoio de outros agricultores da região é essencial para garantir o sucesso das produções nas terras. “Aqui na nossa região de Cândido Mota temos bastante facilidade porque um agricultor ajuda o outro. Mandam colheitadeira para ajudar, quando terminamos vamos ajudar o outro”, ressaltou. À frente da gestão da propriedade, Márcia comentou que os valores do mercado agrícola não estão fora do esperado. Ela explica que o preço da saca de soja não “subiu”, mas sim, que o dólar foi valorizado e isso gera um bom retorno para os produtores: “o mercado da soja gira em torno da saca americana, bushel, que está sempre entre US$ 12 e US$ 14, então o que teve valorização mesmo foi o dólar”. De acordo com Márcia, o investimento que fez nessa safra de soja foi com um custo menor e irá vender seu produto com um preço mais alto. Porém, consequentemente, a produtora também está adquirindo os insumos para a próxima safra com valores elevados e não sabe se terá um bom retorno. “Costumo dizer que temos uma empresa a céu aberto. De repente você pode investir e não ter retorno”, aponta a produtora.

MILHO SAFRINHA
Na propriedade de Márcia, o plantio do milho safrinha começou junto com a colheita da soja e o clima tem colaborado com o desenvolvimento da planta, trazendo chuvas para a região. Porém, de acordo com as previsões, será um ano com bastante seca. “Acredito (e espero) que não”, declara a produtora. No ano passado, a safrinha já sofreu com a seca, baixando a média da produção para 230 sc/alq. Em 2021, Márcia torce para que o clima ajude-a a bater a meta de 330 a 350 sacas. “Nos preocupamos com a seca e a geada, mas espero que o tempo continue colaborando para que tenhamos uma boa produtividade”, conclui a produtora.

O Rally Mulheres do Agro conta com a parceria da BRANDT, da HELM do Brasil e da Sicoob.

Fonte: Revista Agrícola / Agatha Zago